terça-feira, 18 de março de 2014

A QUEM INTERESSA DEBATER A MUDANÇA NO MARANHÃO?

EDITORIAL* - A QUEM INTERESSA DEBATER A MUDANÇA NO MARANHÃO?

Entre o final de fevereiro e o começo de março de 2014, ocorreram três fatos graves no Maranhão: o assassinato do camponês Raimundo Rodrigues da Silva, conhecido como Brechó, em razão de um conflito de terra, no município de Timbiras. O despejo promovido pela Polícia Militar do Estado, de uma comunidade com 72 famílias, no município de Ribamar Fiquene, onde todas as casas e roças foram destruídas e houve, inclusive, a prisão de quatro pessoas, entre elas a dirigente do MST, Gilvânia Ferreira. E, também, uma importante manifestação pública, com cerca de cem moradores da comunidade de Pequiá de Baixo, onde vivem mais de mil famílias, quando foi fechada a entrada de duas grandes siderúrgicas, em Açailândia, por conta da brutal poluição promovida, há vários anos, por estas e outras empresas da região.

Um detalhe revelador: ninguém na Assembleia Legislativa do Maranhão tocou nestes três assuntos. Nem os parlamentares do governo, nem os ditos de “oposição”! Neste momento, estes notórios conservadores discutiam apenas a possível eleição de um novo governador pela Assembleia Legislativa, caso Roseana Sarney venha a renunciar para disputar um mandato no Senado. Pistolagem contra camponeses, despejos de sem-terra e crime social-ambiental, não interessam a este bando... Enquanto isso, o Maranhão precisa, realmente, de mudança! Ninguém aguenta mais a oligarquia/máfia de José Sarney, fiadora, patrocinadora e cúmplice destas e de outras tragédias sociais. Ninguém aguenta mais o “Maranhão das Pedrinhas”, escandalizado, mais uma vez, em janeiro deste ano.

No Maranhão, a maioria do povo quer, há muito tempo, a alternância de poder. Se ela nunca se consumou, foi por conta das sucessivas fraudes comandadas por José Sarney e pela debilidade, vacilo e picaretagem de vários e vários “oposicionistas” e “esquerdistas” de ocasião.

Hoje, com José Sarney cada vez mais desmoralizado e em franca decadência, é fundamental provocar um autêntico debate anti-oligárquico. Será que é possível falar em mudança, no Maranhão, sem tratar da violência ocorrida nos três casos aqui citados? Das causas de toda essa violência política? Dos interesses que estão por traz dos inúmeros conflitos e dramas sociais? Enfim, qual o caminho da mudança? Qual a agenda? Quais os seus pontos fundamentais? Prioritários? Imprescindíveis? Quem seriam os agentes de um processo político alternativo? Um messias? Uma redentora? A demagogia explícita? Qual a base política? Militantes pagos? Candidatos a sinecuras? Qual o papel da sociedade, neste processo? Dos setores ligados às causas populares? Ser protagonista? Ir a reboque? Ser um vagão, em mais um trem conservador?

Temos que enfrentar cotidianamente a oligarquia e também fazer este debate. E é importante fazê-lo ao lado da sociedade, misturado com suas diferentes iniciativas e processos de resistência e mobilização. Só assim pode haver algum tipo de mudança. Inicialmente, temos que mudar o rumo da prosa! Não dá pra ficar apenas discutindo o “PMDB do A” e o “PMDB do B” ou se Luís Fernando é pior que Arnaldo Melo. Vamos falar sério! Estas futricas palacianas passam bem longe dos interesses cotidianos da população.

O Seminário Internacional “Carajás 30 anos”, que será realizado em maio deste ano, promovido por grupos ligados a universidades públicas e as organizações populares do Maranhão e do Pará, tem mais possibilidades para debater e estimular, no Maranhão, iniciativas ligadas à mudança, do que os discursos vindos da atual Assembleia Legislativa.

Sendo assim, para estimular o debate, fomos ouvir, para esta edição de março de 2014, a opinião de sete organizações que atuam no Maranhão: Comissão Pastoral da Terra (CPT-MA), Cáritas Brasileira, Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos (SMDH), Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), Conselho Indigenista Missionário (CIMI-MA), Grupo de Estudos Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas).

A todas fizemos a mesma pergunta. Queremos saber a opinião destas organizações sobre “o que precisa ser feito para que haja, realmente, uma mudança social e política no Maranhão?” Levando em consideração a área em que elas atuam, pedimos para que apontassem “o que é fundamental, imprescindível e prioritário para que se vivencie, de fato, um processo de mudança”. E finalmente, “qual o papel da sociedade, dos setores ligados às causas populares, nesta conjuntura?”.

Esperamos que este debate prossiga, seja ampliado e motive novas ações e mobilizações políticas. Em favor da mudança no Maranhão.

*Editorial da 51º Edição do jornal Vias de Fato que começa a circular nesta segunda-feira 17/03/14