A Marcha Patriótica
transbordou
24 de abril de 2012 | 07:04 AM. | Noticias
Por: Rodrigo López Oviedo
Não sei quantas pessoas cabem na Plaza de Bolívar
de Bogotá e, tampouco, quantas vezes ela foi totalmente ocupada. Acredito que
devem ter sido muito poucas e nenhuma comparável à multidão e ao entusiasmo
presentes em 23 de abril passado. Os organizadores da Marcha Patriótica pela
Segunda Independência tinham previsto a participação de umas 80 mil pessoas e,
para isso, prepararam três colunas, que partiriam de três lugares distintos da
cidade. Porém, apenas com uma das colunas foi suficiente lotar a Plaza. Quando
os outros dois grupos quiseram entrar no local, se depararam com uma praça
completamente lotada pelos primeiros marchantes. É a comprovação do tamanho do
êxito alcançado no lançamento deste movimento social e político!
A Marcha Patriótica é a mais ampla confluência de
organizações que veem com vergonha a prostração de nosso país aos ditames do
império e aos extremos desequilíbrios formados como consequência de políticas
que só visam os interesses oligárquicos. Assim, todo o entusiasmo mencionado é
uma evidência clara das imensas forças que lutam para encontrar soluções para
tão grave problemática, ainda que haja o custo de sofrer a experiência de
tantos lutadores, sacrificando sua liberdade e até sua vida, para alcançar
transformações que façam a vida mais justa e amável para todos os colombianos.
Por isso, não temos dúvidas em qualificar como
exitosa sua realização, como satisfatória a conformação de seu organismo de
direção, o Conselho Patriótico Nacional. O Governo nacional deve ver nisto uma
notificação de repúdio por sua política de favorecimento às transnacionais. São
elas as maiores beneficiadas pelas “locomotoras” do plano de desenvolvimento.
São os empresários da guerra, que lucram com os multimilionários orçamentos de
defesa. São os setores financeiros, que mais se beneficiam com o estado de
coisas vigente.
Porém, também devem sentir-se aludidos aqueles
setores de esquerda que parecem ver reduzido todo seu compromisso político às
urnas. Os 120 mil colombianos que estiveram na Plaza de Bolívar, somados aos
quatro mil delegados que, em representação de mais de 2000 organizações de
massas, assinaram a declaração final, dizem a tais dirigentes que estes vacilam
entre ser e não ser revolucionários. Afirmam a existência de processos que se
dão, inclusive, contra o querer de seus líderes. O melhor é animar tais
processos com entusiasmo antes que os mesmos se voltem contra eles. Essa
participação entusiasta é a melhor maneira de nos aproximarmos do grande sonho
do Libertador Simón Bolívar: alcançar o maior grau de felicidade para nosso
povo!
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Movimento
Político Marcha Patriótica
Declaração
Política.
1
– Com convicção e firmeza, partindo dos mais distantes pontos da geografia
nacional, confluiu para a cidade de Bogotá a Marcha da Esperança, da Alegria,
da Dignidade. Desde as montanhas, planícies, serras e encostas, recebemos mais
de 1700 organizações e, com espírito deliberativo e construtivo, hoje avançamos
um passo a mais na edificação da Segunda e Definitiva Independência. Na mais
profunda fraternidade e solidariedade dos povos que lutam por soberania e
autodeterminação, delegados e delegadas da América Latina, Europa, Austrália e
América do Norte têm acompanhado solidariamente a realização do Conselho
Patriótico Nacional que declara, de maneira decidida:
2
– Anunciamos às pessoas e ao povo colombiano em geral, assim como à
comunidade internacional, que, durante os dias 21 e 22 de abril de 2012,
encontramo-nos para constituir o Movimento Político e Social Marcha Patriótica,
com o propósito de contribuir com a mudança política requerida nosso país,
superando a hegemonia imposta pelas classes dominantes, de avançar na
construção de um projeto alternativo de sociedade e obter a segunda e
definitiva independência. Precisamente nos momentos em que o capitalismo se
encontra em uma de suas maiores crises, mostrando seus limites históricos cada
vez mais evidentes.
3
– A Marcha é o local de encontro de múltiplos processos de organização,
resistência e luta que decidiram fazer seu o exercício da política e aspira a
ser uma expressão organizada do movimento real das resistências e lutas das
pessoas comuns e dos setores sociais e populares que, quotidianamente, em todos
os rincões do país, e, em que pese as adversidades, atuam, de forma
heroica, por uma pátria grande, digna e soberana.
4
– Em que pese o fato do governo de Santos ter se empenhado em aparecer como
renovador e modernizante, na Marcha consideramos que isto representa uma
continuidade do projeto hegemônico e de tentativas de rearranjos do bloco de
poder, precisamente para garantir esta continuidade. Sem deixar de perceber
conflitos e diferenças entre as facções que conformam tal bloco, promovidos por
setores mais belicosos e ultradireitistas, ligados ao narcoparamilitarismo, não
se aprecia – para além da retórica – o surgimento de novas condições que
permitam afirmar que se está a caminho de superar as estruturas autoritárias,
criminosas, mafiosas e corruptas que caracterizam o regime político colombiano.
Tendências recentes dos acontecimentos legislativos em diversos campos parecem
reforçar ainda mais o manto de impunidade que prevaleceu no país, buscam
institucionalizar o exercício da violência contra a população, ao mesmo
tempo pretendem perseguir e criminalizar os protestos e a mobilização social.
5-
O governo de Santos aprofundou o processo de neoliberalização da economia e da
sociedade, iniciado há mais de duas décadas. Este continuísmo favorece
essencialmente o capital financeiro transnacional e os grandes grupos
econômicos que, pensando exclusivamente em seu afã de lucro, impuseram um
modelo econômico empobrecedor. Tal modelo desindustrializou o país, afundou,
numa profunda crise, a produção agrícola, especialmente a produção de
alimentos, propiciou a terceirização precarizante, estimulou ao extremo a
especulação financeira e promoveu - especialmente durante a última década - a
intensa exploração das nossas riquezas em hidrocarbonetos, minerais e fontes de
água, acompanhados pela produção de biocombustíveis, exploração florestal e
megaprojetos infra-estruturais. O desenvolvimento deste modelo foi projetado
dentro de um quadro jurídico-institucional e militar que protege os interesses
do grande capital e que vem se aprimorando no atual governo, através de
múltiplas reformas no âmbito constitucional e legal. A entrada em vigor do
Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, e de outros tratados de
conteúdo similar, é uma boa demonstração disso.
6
– Este modelo econômico conduziu a uma crescente degradação da soberania, a uma
maior concentração e centralização da riqueza, ao aumento da desigualdade
social, à precarização e pauperização do trabalho, à depredação
socio-ambiental, assim como à contínua apropriação da riqueza social e dos
frutos do trabalho mediante a migração e o deslocamento forçado da população.
Também, propiciou uma mercantilização extrema e profunda de toda a vida
social. Constituiu-se numa fonte de apropriação de dinheiro público, mediante a
implantação generalizada de estruturas corruptas.
7
– Na Marcha Patriótica assinalamos a necessidade de produzir uma mudança
política no país que defina as bases para a derrota do atual bloco hegemônico
de poder e gere as condições para as transformações estruturais econômicas,
políticas, sociais e culturais reclamadas pelas pessoas e pelo povo colombiano
em geral. A Marcha coloca seu acúmulo e suas projeções a serviço deste
propósito, chama à mais ampla unidade do povo colombiano e, em especial, dos
diferentes processos sociais e populares existentes, tais como o Pólo
Demcorático Alternativo e outros partidos e organizações políticas da esquerda,
o Congresso dos Povos, a Minga Social e Indígena, a Coordenação Nacional de
Movimentos e Organizações Sociais e Políticas, o COMOSOC, a MANE, bem como as
demais forças políticas, econômicas e sociais que assim se consideram, pela
construção de acordos programáticos que permitam avançar até a superação do
modo de vida e de produção imperantes no país, a transformação estrutural do
Estado, da economia e da cultura.
8
– Na Marcha Patriótica manifestamos a decisão política de lutar por um novo
modelo econômico, de Estado e da
sociedade,
permitindo a transformação estrutural do modo de vida e de produção, que
permita garantir e realizar os direitos humanos integralmente, dignificar e
humanizar o trabalho, reparar integralmente as vítimas da violência e do terror
estatal paramilitar, organizar democraticamente o território, realizar reformas
agrária e urbana integrais, realizar as correspondentes transformações
sócio-culturais, dignificar a arte e a cultura, lutar por uma nova ordem
internacional baseada nos princípios da soberania, da não intervenção, da
autodeterminação e do internacionalismo dos povos, contribuindo para a
integração da Nossa América. Tudo isso, na direção da construção de um projeto
alternativo que supere a atual organização capitalista da sociedade. A Marcha
Patriótica se compromete com o desenvolvimento de sua plataforma programática
com a mais ampla participação das pessoas comuns e, em geral, dos setores
sociais e populares. Para conseguir isso, os Conselhos ficarão abertos.
9
– Na conjuntura atual, tendo em vista a dinâmica das lutas, assim como as
tendências de políticas governamentais em curso, a Marcha Patriótica considera
de vital importância e de suma urgência estabelecer acordos entre os diferentes
processos políticos e organizacionais do campo popular, assim como com as
demais forças políticas, econômicas e sociais interessadas, para fazer o
enfrentamento e construir alternativas relacionadas à política de terras, a
defesa do território, a reivindicação de trabalho, o ensino superior, a saúde e
a seguridade social, os tratados de livre comércio, entre outros. Em
todos os casos, trata-se de unir esforços e avançar na construção de um acúmulo
de mobilização como o principal meio de ação coletiva e para a realização de uma
grande greve cívica nacional.
10
– Apesar da retórica governamental que, com alguma frequência, assinala
considerar a necessidade de paz para o nosso país, parece que este propósito é
concebido em termos de uma solução militar, para o que pressionam, de forma
contínua e persistente, os setores militaristas e de ultradireita. A política
atual de contra-insurgência se fundamenta em um crescente intervencionismo
militar estrangeiro, com o que, além de tentar induzir uma mudança no
equilíbrio estratégico da guerra, corresponde aos interesses geopolíticos e
econômicos do imperialismo dos EUA para garantir o acesso a recursos
estratégicos, proteger investimentos transnacionais e conter quaisquer ameaças
contra esses propósitos, sejam estas dos movimentos sociais ou insurgentes, ou
de Estados soberanos na região.
11
– A política da solução militar encontra sua atual expressão no Plano
Espada de Honra, que se liga a outras experiências do passado recente, todas
inscritas no âmbito do Plano Colômbia e suas diferentes fases de execução. Com
ela se busca a rendição e a desmobilização da insurgência. A experiência de
nosso país, durante os últimos cinquenta anos, ensina, no entanto, que
propósitos similares não têm sido mais do que iniciativas falidas que acabaram imprimindo
novas dinâmicas e formas de expressão para o confronto. E não pode ser de outra
forma, dadas as raízes históricas e a natureza política, econômica e social do
conflito colombiano, assim como a dinâmica específica de uma guerra irregular e
assimétrica.
12
– Uma prorrogação indefinida do conflito social e armado, bem como o que ele
representa em termos de sofrimento da população e do contínuo aumento dos
gastos da guerra que poderiam muito bem ser destinados para atender as
necessidades das pessoas em geral, conduz à perigosa militarização da vida
política, econômica, social e cultural. A Marcha Patriótica manifesta seu
compromisso ético e político com a busca de uma solução política para o
conflito social e armado. Considerando que deve ser socialmente apropriada, a
Marcha manifesta a sua decisão de impulsionar os processos constituintes locais
e regionais pela solução política e pela paz com justiça social, tendendo para
a realização de uma Assembleia Nacional. Propõe também a todas as forças políticas,
econômicas e sociais, a união de esforços para construir caminhos que permitam
tornar realidade os anseios de paz das pessoas e do povo colombiano em geral.
Isso pode ter uma expressão inicial na criação de um encontro nacional pela
solução política e pela paz com justiça social.
13
– A Marcha apresenta suas saudações solidárias a todas as mobilizações,
resistências e lutas populares; e manifesta o seu compromisso de acompanhá-las,
assumi-las como próprias e participar ativamente delas. Saúda igualmente todos
os homens e mulheres que, nos campos e cidades, dão o melhor de suas vidas para
contribuir para o bem viver das classes subalternas, oprimidas e exploradas.
Chama a atenção para a situação dos prisioneiros de guerra e manifesta a sua
solidariedade com os presos políticos e de opinião. Além disso, declara sua
vocação internacionalista e seu apoio irrestrito a todos os lutadores e
lutadoras que, no mundo e na Nossa América, buscam a superação do modo de vida
e de produção imposto pelo capitalismo.
14
– Na Marcha temos chegado aos patriotas para afirmar a existência de sonhos
coletivos; para traçar rotas de dignidade; para abrir portas de esperanças
realizáveis. Seguindo o legado dos libertadores e das libertadoras da Primeira
Independência e dos lutadores populares das resistências em nossa nação, somos
partícipes deste novo capítulo da história a ser forjado na mais ampla unidade
popular. Saímos convencidos de que o sonho não só existe, mas é
realizável em um trabalho coletivo de cada organização e na proposta coletiva
que seguimos construindo. Entregamos ao país este aporte de esperança decidida,
convidando a marchar, a caminhar, a lutar e a construir.
A
marchar pela solução política!
A
marchar pela soberania e integração dos povos!
A
marchar pela unidade popular e pela Segunda e definitiva independência!
Bogotá,
22 de abril.
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