segunda-feira, 18 de março de 2013

Em memória de Karl Marx:


Em memória de Karl Marx: o maior filósofo de todos os tempos

A burguesia arrasta na corrente da civilização todas as nações, até as mais bárbaras. Sob pena de corte, força todas as nações a adaptar o modo burguês de produção; força-as a introduzir a chamada civilização, quer dizer, a tornar-se burguesas. Numa palavra: forja um mundo à sua imagem e semelhança. (Trecho do Manifesto do Partido Comunista, publicado em Fevereiro de 1848).
No último dia 14 de março, completou 130 anos da morte física do  filósofo e ativista político alemão Karl Marx. Frisa-se bem o “morte física” porque a obra, as ideias, ideais e práxis de Marx não morrem jamais.
A cada passo de evolução da sociedade o pensamento daquele que foi eleito pela Rádio rádio 4, da BBC de Londres, o maior filósofo de todos os tempos, torna-se mais importante para compreendermos a relação exploração x explorado, marca vital e mortal do capitalismo.
Em nome de Marx e do “marxismo” foram feitas gloriosas revoluções populares pelos quatros cantos do mundo.
Em contrapartida, foi também em seu nome e de sua obra que cometeram, e ainda comentem, inúmeras atrocidades, inclusive contra a humanidade. Tal como no caso da inquisição ou das cruzadas, que em nome de Jesus Cristo torturaram, perseguiram e assassinaram, em nome de Marx alguns déspotas e ditadores sanguinários fizeram o mesmo.
As causas de Marx eram e ainda são justas e imprescindíveis ao bem da humanidade, mas o grau de deformação sobre os seus estudos foi tamanho que muito do que ele disse e escreveu acabou virando “programa oficial” de governos autoritários, daí que sou da mesma opinião do grande historiador Eric Hobsbawm, falecido no ano passado, quando afirma: “Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que os seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista”.
A deformação do pensamento de Karl Marx foi de tal envergadura que deu-se pouco destaque ao jovem Marx humanista dos tempos dos Manuscritos Econômicos e Manuscritos Econômico-Filosóficos. O “marxismo oficial” sempre gostou mais do Marx d’O Capital.
Enfim, o Blog do Robert Lobato não poderia deixar passar em branco a data dos 130 anos de saudade internacional do homem que mudou a forma do mundo ver o mundo.
A seguir o discurso no Funeral de Karl Marx feito em 18 de Março de 1883 pelo amigo e principal colaborador intelectual Friedrich Engels. Veja:
Em 14 de Março, quando faltam 15 minutos para as 3 horas da tarde, deixou de pensar o maior pensador do presente. Ficou sozinho por escassos dois minutos, e sucedeu que o encontramos na sua poltrona dormindo serenamente — dessa vez para sempre.
O que o proletariado militante da Europa e da América, o que a ciência histórica perdeu com a perda desse homem é impossível avaliar. Logo evidenciara-se a lacuna que a morte desse formidável espírito abriu.
Assim como Darwin em relação a lei do desenvolvimento dos organismos naturais, descobriu Marx a lei do desenvolvimento da História humana: o simples facto, escondido sobre crescente manto ideológico, de que os homens reclamam antes de tudo comida, bebida, casa e vestuário, antes de poderem praticar a política, ciência, arte, religião, etc., e que portanto a produção imediata de bens de primeira necessidade e com isso a correspondente etapa económica de um povo ou de uma época constitui o fundamento a parir do qual as instituições políticas, as instituições jurídicas, a arte e mesmo as noções religiosas do povo em questão se desenvolve, na ordem em que elas devem ser explicadas – e não ao contrário como nós até então fazíamos.
Isso não é tudo. Marx descobriu também a lei específica que governa o actual modo de produção capitalista e a sociedade burguesa por ele criada. Com a descoberta da mais-valia descobriu-se subitamente esses problemas, enquanto todas as investigações passadas, tanto dos economistas burgueses quanto dos críticos socialistas, perderam-se na obscuridade.
Duas descobertas tais deviam a bastar uma vida. Já feliz é aquele que faz somente uma delas. Mas em cada área isolada que Marx conduziu a pesquisa, e estas pesquisas eram feitas em muitas áreas, nunca superficialmente, em cada área, inclusive na matemática, ele fez descobertas singulares.
Tal era o homem da ciência. Mas isso não era nem de perto a metade do homem. A ciência era para Marx um impulso histórico, uma força revolucionária. Por muito que ele ficasse claramente contente com um novo conhecimento em alguma ciência teórica, cuja utilização prática talvez ainda não se revelasse – um tipo inteiramente diferente de contentamento ele experimentava, quando tratava-se de um conhecimento que exercia imediatamente uma mudança na indústria, e no desenvolvimento histórica em geral. Assim por exemplo ele acompanhava meticulosamente os avanços de pesquisa na área de electricidade, e recentemente ainda aquelas de Marc Deprez.
Pois Marx era antes de tudo revolucionário. Contribuir, de um ou outro modo, com a queda da sociedade capitalista e das instituições estatais burguesas, contribuir com a emancipação do proletariado moderno, que primeiramente devia tomar consciência de sua posição e de seus anseios, consciência das condições de sua emancipação – essa era sua verdadeira missão em vida. O conflito era seu elemento. E ele combateu com uma paixão, com uma obstinação, com um êxito, como poucos tiveram. Seu trabalho no ‘Rheinische Zeitung’ (1842), no parisiense ‘Vorwärts’ (1844), no ‘Brüsseler Deutsche Zeitung’ (1847), no ‘Neue Rheinische Zeitung’ (1848-9), no ‘New York Tribune’ (1852-61) – junto com um grande volume de panfletos de luta, trabalho em organizações em Paris, Bruxelas e Londres, e por fim a criação da grande Associação Internacional de Trabalhadores coroando o conjunto – a verdade, isso tudo era de novo um resultado que deixaria orgulhoso seu criador, ainda que não tivesse feito mais nada.
E por isso era Marx o mais odiado e mais caluniado homem de seu tempo. Governantes, absolutistas ou republicanos, exilaram-no. Burgueses, conservadores ou ultra-democratas, competiam em caluniar-lhe. Ele desenrolava tudo isso como se fosse uma teia de aranha, ignorava, só respondia quando era premente essa necessidade. Ele faleceu venerado, amado, chorado por milhões de companheiros trabalhadores revolucionários – das minas da Sibéria, em toda parte da Europa e América, até a Califórnia – e eu me atrevo a dizer: ainda que ele tenha tido vários adversários, dificilmente teve algum inimigo pessoal.
Seu nome atravessará os séculos, bem como sua obra!

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