domingo, 7 de junho de 2009

PROFESSOR É PAGO PARA FAZER CURSO




DEU EM O ESTADO DE S.PAULO
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Professor é pago para fazer curso
Em colégios particulares, docentes são incentivados a melhorar a formação e salário pode passar dos R$ 4 mil

Simone Iwasso e Márcia Vieira

Salários que podem passar dos R$ 4 mil, provas de seleção para iniciar a atividade e incentivo para participar de cursos de formação continuada fazem parte da realidade de professores que lecionam em escolas particulares de São Paulo e do Rio consideradas top.

Colégios privados que aparecem nos primeiros lugares no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), nos quais a mensalidade pode superar o investimento anual por aluno da escola pública, oferecem condições e orientação ao professor.

A situação é bem diferente da que ocorre na rede pública, onde quase um terço dos docentes nem terminou a faculdade e muitos não recebem o piso salarial estabelecido em lei.

Mas, assim como são mais valorizados, os professores das particulares convivem com uma cultura onde há cobrança de resultados. O trabalho é acompanhado de perto por supervisores e coordenadores que, ao perceberem problemas e dificuldades, interferem em busca de modificações. E a seleção para o emprego é feita com critérios rígidos, que incluem provas.

Em uma comparação, o ciclo de formação e condições dos professores é semelhante ao dos alunos: os que têm nível socioeconômico melhor e recebem estímulos acabam sendo mais bem formados e vão para as melhores escolas.

Com isso, o professor que recebeu uma formação precária, em uma faculdade pouco eficiente, acaba ficando com a opção de lecionar na rede pública.

DIFERENÇAS

No Colégio Pentágono, em São Paulo, por exemplo, o salário de um professor de ensino fundamental está em torno de R$ 4,5 mil. Os que lecionam para o ensino médio recebem cerca de R$ 7 mil. Já o professor da rede pública, em média, tem salário de R$ 1.335 mensais no País, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007.

No Colégio Bandeirantes, segundo colocado no último Enem na capital paulista, os professores interessados em fazer mestrado ou doutorado em instituições privadas têm seus cursos pagos e seus horários adaptados.

"Estudar é a palavra de ordem para todos aqui, não só para os alunos", resume o diretor da escola, Mauro Aguiar (mais informações nesta página).

No Colégio São Bento, do Rio, primeiro colocado no País no Enem, professores são convocados e pagos para assistirem palestras de especialistas em educação durante o ano.

"Antigamente, os candidatos a professor já tinham uma bagagem de conhecimento muito grande, trazida de casa, da sua base escolar. Isso mudou radicalmente hoje, mas a formação continua a mesma e sendo feita no mesmo período de tempo. Não seria necessário pelo menos aumentar este tempo?", questiona Edgar Flexa Ribeiro, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio.

Há 40 anos trabalhando em educação - sua família é dona do Colégio Andrews, fundado há 90 anos -, Flexa Ribeiro se preocupa principalmente com a mudança do perfil do professor. "Mudam as Leis de Diretrizes e Bases da educação no País e os professores continuam sendo formados do mesmo jeito. Isso é preocupante", afirma.

Nos últimos anos, tem sido registrado um desinteresse de alunos mais bem preparados em seguir a carreira de professor. Estudantes de famílias das classes C e D têm buscado cursos ligados às licenciaturas, atraídos pela possibilidade de estabilidade no emprego garantida pelo funcionalismo público.

Dados do Ministério da Educação mostram que, além da mudança no perfil, há uma queda geral no interesse pela profissão, provocada pela desvalorização da carreira do magistério. O que acaba gerando falta de docentes para diversas disciplinas, principalmente física, química e sociologia, por exemplo. Em 2007, último dado disponível, 70 mil brasileiros se formaram em cursos de licenciatura, o que representa 4,5% menos do que no ano anterior. De 2005 a 2006, a redução havia sido de 9,3%.

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